TDAH e adicção: causa ou consequência?

O TDAH e o (ab)uso de drogas – Quando os transtornos são causas ou consequências e que esbarram em soluções (mal)  adaptativas para as demandas contemporâneas.

O diagnóstico de TDAH, assim como o abuso de substancias, vem sendo amplamente discutidos na mídia, entre as famílias e não seria diferente no consultório.

 O filme A Arte de Ser Adulto nos abre a perspectiva não só das dificuldades que uma pessoa que apresenta alguns sintomas do TDAH sofre, como o entorno é impactado por essa pessoa, como reage a ele e como todos esses aspectos estão articulados favorecendo ou não para a manutenção e agravamento desse transtorno tão comum na atualidade.

Vivemos um tempo em que desenvolver algum grau de TDAH chega a ser uma defesa importante para sobreviver em um mundo em que as coisas acontecem em paralelo e temos que interagir com essa sobreposição constantemente,  o excesso de tarefas nos obriga a desenvolver a capacidade de adiar algumas em detrimento de outras, e isso geralmente aparece como queixa de procrastinação, temos que nos manter constantemente em alerta para capturar as mudanças rápidas de contexto ao invés de podermos nos dar ao luxo de nos desligar dos estímulos externos para focar em uma única coisa sob risco de nos perdermos do contexto presente que no segundo seguinte já é passado. O desleixo e a bagunça que são características comum de pessoas que sofrem com esse transtorno parecem apenas concretizar o caos interno que temos que lidar internamente e que apenas alguns corajosos são capazes de denunciar esse mau estar do nosso tempo, dando uma dimensão concreta do tamanho caos que transformamos o que chamamos de (sobre) viver.

O que resta do amaranhado que fizemos no nosso psiquismo é o curto-circuito de nossas redes.

A impossibilidade de se adaptar a essa realidade gera uma serie de consequências que são denunciados pela via do SOFRIMENTO, e dependendo da forma que esse sofrimento pode ser simbolizado pela pessoa e pelo entorno, poderá gerar agravos importantes na percepção que a pessoa tem de sí, de suas capacidades, uma impossibilidade de sonhar um futuro melhor, frustração, incompreensão e no estado limite, pode levar ao suicídio.

O que ocorre é que no meio do caminho, se essa pessoa, sob esse estado de sofrimento, encontra alguma possibilidade de aliviar esse estado de mau estar, ela tenderá buscar repetir essa experiência. Sabemos que as substâncias psicoativas são capazes de alterar nosso estado de consciência no momento do seu consumo, e quando esse encontro se dá em uma pessoa que está sob essa condição, o potencial aditivo de determinada droga pode ser intensificado significativamente.

O que ocorre é que quando encontramos uma pessoa que precisa de determinada substância para promover aquilo que ela não se sente apta para promover por conta própria, instala-se uma adicção, uma condição de escravização, a pessoa perde a capacidade de escolha ficando aprisionada e refém desse elemento que é ao mesmo tempo alívio e agravamento do sofrimento no instante seguinte.

Quem está de fora da cena, tenderá a culpabilizar a droga de eleição como o mal que precisa ser combatido a todo custo, porém, ter a dimensão da CAUSA que levou essa pessoa a essa condição de agravamento se faz necessária para que o tratamento contemple esse sofrimento que antecedeu esse tipo de relação aditiva.

O filme citado acima retrata um rapaz que passa seus dias “chapado” para suportar a dor de viver diante de suas inabilidades do pensar e do agir, tendo um entorno que também estava limitado de recursos para lidar com essa condição, favorecendo a manutenção dessa condição. Porém, 2 personagens conseguiram oferecer um olhar outro que o ajudou a transformar sua condição para alguém que pudesse estar inserido em contextos mais saudáveis para seu desenvolvimento.

Encerro esse ensaio com a reflexão do quanto o contexto que estamos inseridos nos convida ao adoecimento como defesa psíquica para conseguirmos sobreviver, e nesse momento passa a ser uma solução (disfuncional) e não somente um transtorno, com causas apenas bioquímicas, e a importância de engajar o entorno na transformação de sí, do meio e de quem sofre. Enquanto a solução não for mais ampla, que envolva essa rede socio-afetiva e contexto, as possibilidades serão mais limitadas.

 

 

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