Sabe o que eu penso sobre o trabalho?

Quando eu penso em trabalho, do ponto de vista da saúde mental, penso nos mesmos pressupostos que permeiam a brincadeira de criança: liberdade, criatividade, satisfação de desejo, tentativa de resolver na prática alguns conflitos pessoais que estão presentes e que precisam de algum suporte concreto para encontrar um equilíbrio, identidade, fantasias e tantos outros aspectos.

Trabalhei por mais de 10 nos no mercado financeiro, e, após uma transição de carreira para a psicologia, encontro na minha prática, há mais de 11 anos, um estado muito próximo do citado acima do qual me custaria muito abrir mão, independente de onde esteja fazendo alguma intervenção, esse pressuposto me acompanha e é garantidor de que um bom trabalho possa ser feito.

Brincar é coisa séria, e, parece que após muitos anos tentando girar no mesmo ritmo que as máquinas das quais criamos, descobrimos que demos muito mais velocidade a ela do que a nossa capacidade de acompanhá-la, nesse momento, retomar nossas características mais singulares e humanas passou a ser nossa melhor, ou única, saída frente ao tecnológico e exponencial futuro. Recobrar as estruturas que nos fundam enquanto indivíduo, passa inevitavelmente pela brincadeira, e, pelo nível de satisfação que se pode então obter, a qualidade dos resultados passam a ser consequência, e não mais objetivo inicial.

Pensando em tudo isso, o trabalho no modelo que tínhamos no passado, repetitivo, que não exijam da capacidade humana, deverá ser delegada as máquinas. Não que seja uma tarefa fácil contemplar o humano de cada um, encontrando o humano do outro, com todas as suas idiossincrasias, e a ainda, e não menos importante, necessidade de perpetuação das organizações. Mas não vejo outro caminho senão o de enfrentar e atravessar os diversos conflitos existentes entre as partes com muita criatividade, máximo de autonomia possível, mas, acima de tudo, disposição para escutar e reconhecer as necessidades de todos, bilateralmente, em ambientes seguros. Sem esse pressuposto, não haverá brincadeira, e não havendo brincadeira, não haverá inovação e tantos outros atributos do momento.

Quanto mais possível que uma pessoa experiencie condições favoráveis no ambiente de trabalho, além de obter mais prazer em executar suas atividades, sua condição física e mental estará mais preservada. Falar de trabalho também é falar de saúde, não exercendo uma posição neutra nesse sentido, podendo favorecer uma condição de saúde ou adoecimento no individuo, tamanha a sua importância.

Não podemos ficar incólumes a esse fator tão determinante na vida adulta das pessoas, a capacidade de produzir, fazer laço social através de um produto que é nosso, garantir uma posição na sociedade, além é claro, de obter recursos que garantam a sobrevivência, é extremamente importante para todos nós. Então, vamos brincar!

Créditos da ilustração: Freepik

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